domingo, 26 de maio de 2013

A Criança e a Motivação




Quando se ensina alguma coisa, o que seja, ensina-se também a colher com sabedoria os resultados, e também a se preparar para os contratempos. Ambos fazem parte do aprendizado, e não apenas a maneira de se fazer a coisa. Uma criança ainda requer de muita experimentação antes de ser capaz de compreender cada coisa, por isso, a expectativa de resultados insatisfatórios, ou parciais, assim como a perspectiva de resultados positivos em qualquer empreendimento, deve fazer parte de sua instrução preliminar.

  Não existe ilustração melhor do que ensinar a fazer. Não existe ensinamento mais eficaz do que aprender fazendo. Assim, mostrar como fazer, vale mais que dizer que pode ser feito. Ainda assim, tudo começa com a demonstração de que aquilo pode ser realizado, desde que se possua a devida habilidade, ou instrução. 


 Uma obra sem utilidade, para uma criança, vale tanto quando uma pedra preciosa para uma galinha. Sua motivação é diretamente proporcional à utilidade da coisa produzida, seja para si mesmo, seja para outros. Do mesmo modo, enganá-la com falsas propostas ou promessas, equivale e comprometer sua autoestima. Ocorre que ela não reage às frustrações como um adulto, mas antes disso, tende a se sentir rejeitada, inferiorizada, sem importância, já que vê no resultado do seu trabalho, a si mesmo.


 Assim, seu trabalho representa sua pessoa, e a forma como esse trabalho será recebido, rejeitado, criticado, utilizado, apreciado, aceito, será também o modo como se sentirá como individuo. Ao sentir a inutilidade do seu trabalho, assim também se sentirá como pessoa, e a mesma coisa vale para a aceitação, ou crítica construtiva. 


 Uma crítica construtiva, longe de ser um elogio, ou uma espécie de recompensa, tem mais valor se bem compreendida como função motivadora. Comentar de forma clara sobre o trabalho, como, por exemplo, discutir um texto escrito, de modo que ela perceba que o mesmo foi lido e analisado, torna-se uma excelente forma de motivação, e abre espaço para a crítica construtiva. Desse modo, ela tenderá a aceitar as ressalvas, correções, como uma forma clara de orientação e nunca de rejeição.


 Conhecer uma criança, não apenas seu nome, ou o nome dos seus pais, mas, daquilo que não gosta, ou gosta, abre um espaço gigantesco, para que o educador tenha acesso à mesma. Ela o permitirá, pois saberá que ele a conhece, e por isso mesmo, deve saber o que é melhor para ela. Também, o educador sensato, o deve demonstrar publicamente, que conhece cada uma delas. Isso se consegue com comentários discretos, enfatizando ou ilustrando os gostos pessoais de cada uma. Mentalmente ela dirá:


 “Nossa, ele ainda lembra de mim...”. "Não existe incentivo maior e argumento mais motivador para uma criança, que ouvir o educador chamar pelo ser nome."


Cuidado deve ter, entretanto, para nunca, sob nenhuma circunstância ou alegação, criar ambientes competitivos entre elas. Seja por preferir uma ou outra, seja por elogiar o pior ou melhor desempenho de quem quer que seja. Motivar uma criança não deve ter como terreno a desmotivação do restante do grupo, e é exatamente isso que ocorre, ao preferirmos, ou destacarmos alguém, ou seu trabalho, de forma seletiva, ou ostensiva. 


 O educador consciente sabe como fazer para nivelá-las, sem destacar de forma provocativa uma ou outra, sem fazê-las sentirem-se inferiores ou superiores aos seus amigos, o que poderia incentivar a competição interna, a disputa por preferências, a falta de entendimento e sintonia do grupo. Aquela que sabe mais, ou que demonstra maior interesse, deve ser tratada com a devida atenção, mas sem demonstração explícita de que há preferências, ou que as demais são inferiores, ou preteridas.


 Incentiva-se uma criança claramente destacada no meio do grupo, de forma discreta e com inteligência. Se ela é curiosa, deve ser incentivada de forma indireta a desenvolver ainda mais sua curiosidade. Nesse caso, a mensagem deverá ser dada para todo o grupo, e aqueles indivíduos mais interessados, entenderão que se trata de uma orientação direcionada para eles. 


 Recompensas, elogios fáceis, promessas de sucesso, práticas comuns usadas para motivar ou incentivar as crianças a realizarem suas tarefas, obrigações, ou mesmo cuidados pessoais, devem ser evitadas a todo custo. Deverá o educador, substituir tudo isso, pelo simples reconhecimento de um trabalho bem feito, ou interesse sincero pelo andamento de uma tarefa ainda pendente. Deve estar disposto a ouvir as explicações das mesmas, de como realizaram aquele trabalho, e mesmo, contribuir pessoalmente, com sugestões individuais ou coletivas. 


 Outra forma de elogiar, de dar novo ânimo ao grupo, de modo a não haver comparações, ou despertar ciúmes, é ensiná-las a trabalhar em equipe, deixando claro que, para uma tarefa dessa natureza, onde cada uma tem uma função, todas são igualmente necessárias e importantes. Deve ainda enfatizar ao grupo, que o tamanho de uma atividade, não quer dizer menos ou mais, mas igualmente importante. Use pequenos contos como analogias, estes são excepcionais exemplos, elas gostam de ouvir, e ainda aprenderão alguma coisa útil. 


 Na formatação de uma equipe, o educador deve conhecer as capacidades e personalidades de cada um, cuidando de não incluir num mesmo grupo, crianças de temperamentos contrários. Conhecendo as disposições psicológicas e habilidades individuais, poderá agrupá-las em equipes que se complementem. 

 Finalmente, não se motiva uma criança, comparando seu resultado com o do seu colega, ou de um estranho. Mais eficaz e sensato, é dar-lhe desafios sempre crescentes, e acompanhar de perto seu progresso, ou dificuldades. E ao perceber o interesse do educador pelo seu trabalho, ela se sentirá motivada e responsável, pois, como foi dito antes, para ela, o trabalho e a sua pessoa, é uma só coisa.
fonte: Artigos Educacionais

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